15 março 2018

Me Chame Pelo Seu Nome


O delicado Me chame pelo seu nome nos apresenta o período de seis semanas em que Oliver (Armie Hammer), um homem que está para lançar um livro sobre Heráclito, se hospeda na casa dos Perlman, que costumam receber algum estudioso todos os anos durante as férias para uma troca de conhecimentos e ajuda em organização de arquivos. Lá, assim como os outros hóspedes, o homem ficará no quarto do filho único do casal, Elio (Timothée Chamalet). Já tendo conhecimento, o menino de 17 anos apresenta uma certa antipatia, que não se demora a esvaecer, dado ao grande interesse que germina em relação ao novo hóspede.

Em um tom despretensioso e sutil, o diretor Luca Guadagnino nos traz uma história de profundo amor onde Thimoteé Chamalet e Armie Hammer possuem uma química incrível. O primeiro, indicado merecidamente ao Oscar de Melhor Ator, apresenta uma atuação impecável, com usos magníficos da linguagem corporal, tão orgânico que carrega o filme de veracidade. O mais velho não apresenta muitos pontos fortes em sua atuação, mas consegue transmitir bem a mudança do personagem que começa como um homem aparentemente autoconfiante, mas que depois revela também possuir dúvidas e fraquezas.

O longa retrata, por meio de Thimoteé Chamalet, uma fase confusa e cheia de desejos: a puberdade. Assim, Elio apresenta um adolescente que está em um momento de descobertas sexuais e necessidades. Levando isso em conta, não pode-se deixar de lado um comentário sobre a repercutida cena do pêssego, que é nada mais do que uma amostra das coisas curiosas que o ser humano pode fazer quando está sozinho, principalmente um adolescente que está se descobrindo, sendo plausível e não imoderado como alguns podem avaliar.


O drama também nos traz dois pontos muito importantes; o primeiro é a representatividade de uma minoria. Tanto Oliver como Elio não se relacionam apenas entre si ou com outros homens, mas sim com outras mulheres. O grupo LGBT recentemente vem ganhando atenção, mas pouquíssimas vezes podemos ver bissexuais na ficção, o que é um ponto positivo em relação a temas sociais. O outro, é a ausência de cenas explícitas, não tornando o filme apelativo, mas sim cheio de delicadeza. A falta de sensibilidade pode fazer com que alguns espectadores não percebam a relevância dessas questões.

Um ponto a ser avaliado é a ausência de preconceitos por parte de qualquer personagem, o que é curioso pelo fato de que são os anos 80, o auge da AIDS e da homofobia. Em lugar disso, vemos personagens compreensíveis que não demonstram nenhum incômodo. Isso causa um pouco de perda de veracidade, mas que não é grande impacto, por não ser este o foco da abordagem.

Com belíssima fotografia e um tanto monótono, nos remetendo às férias em um lugar pacato e ao período de sedução, o filme cumpre o que promete: falar sobre amor entre duas pessoas durante um curto período de tempo. Oposto a isso foi o que, em 1968, Pasolini realizou em Teorema, onde Terrence Stamp representa um visitante norte-americano em uma família Italiana, mas que funciona muito mais como uma alegoria de um filme metafórico e complexo com críticas à burguesia e aos paradigmas da sociedade. Seria inútil compará-los, a não ser em questões estéticas e culturais, razoável pelo fato de serem dois diretores italianos e o uso de referências e homenagens serem bem-vindas.

Me Chame Pelo Seu Nome quer ser leve e sensível e assim o faz. Não tenta ser o melhor filme do ano e ainda consegue ser espontâneo, intenso e tratar de um tema "tabu" sem fazer alvoroço. Com a ajuda da trilha sonora composta por Sufjan Stevens e um diálogo cheio de reflexões, será difícil não se emocionar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário